por Daniel Cywinski
A artista plástica polonesa, pensadora da educação e da arte, Fayga Perla Ostrower, é autora de uma frase que considero especialmente mágica para aqueles que possuem nos processos de criação artística um caminho para a vida:
“O Homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa. Ele só pode crescer, enquanto ser humano, pesquisando, dando forma, criando.” (Ostrower, 1987).
Mágica frase que organiza em palavras, de forma única, o encanto que o Homem tem em criar, em dar forma, em produzir e organizar em matéria o que seu universo mental é capaz de produzir.
Sem dúvida nós, seres humanos, sempre criamos, sempre procuramos formas de materializar, de simbolizar, de representar e, portanto, de comunicar nossos sentimentos e percepções do mundo.
Uma vez que biologicamente iguais, não há razão para duvidarmos que nossos ancestrais não faziam algum tipo de arte, seja verbal, seja material, musical ou performática. Para além daquelas perenes pinturas rupestres, outras formas de arte
foram realizadas e perdidas pela incapacidade de registro.
Diante dessa constante reflexão, como educador, entre muitas tarefas que me cabem, me esforço para facilitar, de fato, processos de criação nos ambientes de educação em que estou inserido.
Por mais que me empenhe nessa direção, luto permanentemente em busca desse momento, da mistura dos elementos que criam a condição do verdadeiro e do profundo processo de criação no grupo de trabalho.
Sem desprezar resultados conquistados, mas de forma sincera, confesso, sem nenhum receio, que não encontrei pessoa mais capaz de criar tais condições que Mana Bernardes.
De forma rara e absolutamente visceral, a (também) educadora Mana domina as chaves que abrem as portas que separam o educando do processo de criação. O resultado de tal dom ou, para alguns, técnica é incrivelmente surpreendente, e acontece na forma de uma materialização coletiva de arte, que de certa forma transcende a autoria, sendo um resultado de expressão única, alcançando o limite que se pode atingir em um momento de educação criativa. Sua facilidade de estabelecer a conexão entre o educando e o momento da criação livre é no mínimo surpreendente, não tem princípio nem estratégia, é no meu entender sua verdadeira arte.
Mana descreve seu trabalho como educadora em metodologias e oficinas, é capaz de sistematizar sua prática e até dar palestras sobre, mas ineficiente será quem racionalmente seguir seus passos, pois tal habilidade é intangível, pode apenas
servir de inspiração.
Mana Bernardes tem a habilidade de conectar pessoas aos universos mais intensos da criatividade. É, para mim, portanto, no exercício de educadora, uma senhora capaz de produzir o encontro verdadeiro do educando com seu universo interior, aquele que poucas vezes na vida é acessado, a não ser por aqueles raros sortudos, os artistas.
Rompe, por meio de suas habilidades (estratégias) de trabalho como educadora, as fronteiras que limitam os educandos da realidade da repetição, e assim catalisa o desenvolvimento e a percepção de novas possibilidades simbólicas, estéticas.
Como protagonista da vanguarda, une essas estratégias de educação a superação dos desafios sociais e econômicos, e cria assim caminhos de desenvolvimento humano, social, cultural e econômico, ofertando produtos de educação completos,
capazes de interligar o desenvolvimento individual e coletivo, e tendo como resultado a possibilidade de transformação da arte em ferramenta de política de desenvolvimento social.
É por isso, e nada mais, que tenho Mana como exemplo único e inigualável de educadora. Salve essa querida e linda educadora Mana Bernardes!
Daniel Cywinski é educador com mestrado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e gestor da Associação Cairuçu (Paraty/RJ).