Ocupação Mana Bernardes na casa Ipanema
Ocupação é um nome forte, tem haver com resistência, com uma maneira radical de ocupar o espaço, com movimento. É isso que apresento aqui na Casa Ipanema. No primeiro andar estamos agora na troca de todos os móveis de lugar, pra colocar a mesa da performance que farei com a Alice Caymmi e o set do show do Wladimir Gasper pra celebrar o Lançamento oficial da Sandália Do Mundo que fiz pra Ipanema.
A sandália é 30% reciclada e 100% reciclável. Tem na palmilha uma textura de digital, na sola uma poesia e no cabedal uma espécie de colar sobre os pés. Minha caligrafia despadronizada, a textura ligada a manufatura e o percurso pra fazer esse processo mais reciclado, tem haver com a construção que me proponho de humanizar processos industriais. Acredito que um objeto não é o fim, e sim um meio possível para uma série de transformações. Agora a Susana Lacevitz, cenógrafa, me chama. Ela acabou de de transformar em painéis levíssimos o papel com poesia que fiz pra embalar minha sandália. Ele já foi enquadrado por várias pessoas da equipe e me emociona saber que uma embalagem que iria pro lixo tem sido enquadrada.
No segundo andar da casa, Tatiana Dutra, artesã fiel do meu ateliê e mais três artesãs não param de mexer as mãos na transformação de sobras industriais das sandálias em peças de montagem atraentes e coloridas para vocês sentarem em volta delas e ocuparem as mãos em fazer objetos com isso. Nesses dois meses da ocupação até dois de agosto todas as sextas das 16 as 20 horas elas darão oficinas. O que realizo aqui hoje é um sonho. Lembro da primeira vez que vi esses materiais coloridos sendo expelidos das máquinas e do desejo imediato que tive de acessibilizar isso ao público em formato de oficinas, mas agora tudo está conectado.
Há alguns anos comecei a desenhar relações, instauro processos com tempos diferentes da máquina, levo meses, às vezes anos até dar alma e animar, como celebrado aqui nessa ocupação.
Desenho relações porque acredito que as marcas tem muito mais pra devolver pro mundo do que só objetos.
Meu desenho com a Ipanema começou quando recebi uma ligação do Edson Matsu, Diretor Criativo da Grendene, e não paramos mais de ter qualidade de conversa infinita. Nossa conversa maturou por alguns anos, ele acompanhou e visitou uma série de projetos meus e eu os dele. Vi várias etapas do projeto arquitetônico dessa casa feito por ele e pelo Domingos Pascali, e nesse processo desenvolvi um Mapa Sensorial pra Ipanema. Nessa hora sugeri que Ipanema bairro e marca se misturassem intrinsecamente. E o trabalho que fiz virou uma espécie de guia pra equipe de criação da marca. Fiz esse Mapa Sensorial porque achar os ruídos das coisas, mergulhar no rosto das pessoas, dançar em lugares desconhecidos e aprender novos ritmos, é vivência fundamental pra carregar qualquer objeto ou poesia de símbolos.Iniciei esse Mapa no encontro com o fotógrafo Mauro Kury. Temos um casamento de realizações há mais de uma década e quase não precisamos falar mais, só pouquíssimas palavras cabem no nosso entendimento. Marcamos no Arpoador e quando cheguei ele já tinha clicado os movimentos dos pássaros locais. Daí não sabia nada do que fazer, e num papel amassado que embalava o talher do meu almoço num restaurante, escrevi seis palavras: textura, cor, sensação, perfume, forma e sabor. Continuei sem saber o que fazer, e num impulso comecei a assediar as pessoas que passavam pela rua, e nessas conversas anotei respostas como a de um vendedor ambulante sabido que me disse que sabor de Ipanema é o sol e sensação é “das mulhé na praia”. O olhar desse vendedor e de todas as pessoas que conversei, se misturaram ao meu e ao do Mauro e o que vamos mostrar nessa sala a partir da entrada de gaivotas, é o início da sandália que fiz, e de toda a minha parceria com a Ipanema.
Obrigada mesmo por ocuparem esse espaço comigo.
http://sandaliasipanema.com.br/g/11-lancamento-exposicao-mana-bernardes