Lançamento Mana Bernardes para Tok&Stok 2015
Em São Paulo dia 27 de outubro às 19:30 na loja de Pinheiros – dia 3 de novembro no Rio de Janeiro, na loja de Botafogo.
Um vaso é um vaso. Um vaso de vidro transparente, cheio de água, com a forma de uma gota, já é outra coisa. Preso à parede, em vez de apoiado numa mesa, é mais outra coisa ainda.
Entre nós e ele, a palavra vaso. Mas a palavra corpo inscrita num vaso de porcelana branca instaura um novo meio de nomear. O bojo do vaso passa a remeter às curvas de um corpo humano. Ao mesmo tempo, nos lembra que a palavra corpo não se refere apenas ao nosso corpo, mas a tudo que é matéria. Como a água toma corpo quando liquefaz ou congela. Assim, a palavra corpo no vaso de Mana traduz o que ele já é por si, enquanto remete à sua superação, em direção a nossos corpos.
A simplicidade desse gesto nos revela os processos como Mana cria — do design ao verbo, da produção ao consumo, da contemplação ao uso.
Ela não grava palavras nos objetos como quem os adorna, mas como quem tatua. E nossas relações com eles (comer, beber, ver, ler, cozinhar, servir, apoiar os braços, abrir uma gaveta, secar o corpo após o banho) se ritualizam. “Faz silêncio e olha pra quem está ao seu lado”.
Mana não pensa só na forma de um prato (copo, tigela, mesa), mas no que vai ser posto nele. Daí as receitas se integrarem ao mesmo processo criativo. E no que vai ser escrito nele. Daí a escrita manual que inaugura um alfabeto próprio. E no ambiente que o circunda. Daí os móveis, varais, jardins. E nas mãos (e olhos e corpos) que o produziram, em direção às que virão a tocá-lo. Seus objetos são pontes entre pessoas, ecos visíveis de suas relações ocultas.
Tudo aqui aponta para a serenidade, reflexão, contemplação, tempo ao tempo, espaço ao espaço.
Mana é maná.
Arnaldo Antunes